As águas residuais são os recursos hídricos utilizados em atividades
humanas que se tornam impróprios para o consumo, mas podem ser
utilizados para outros fins após tratamento. Segundo a ONU, os
benefícios para a saúde humana e para o desenvolvimento e
sustentabilidade ambiental são muito maiores que os custos da gestão
dessas águas, fornecendo novas oportunidades de negócios.
Na avaliação do coordenador de Implementação de Projetos Indutores da
Agência Nacional de Águas (ANA), Devanir Garcia dos Santos, para o
Brasil, é essencial discutir o reúso da água já que o recurso, apesar de
abundante, não é distribuído uniformemente em todas as regiões do país.
“Temos regiões que têm carência de água e que têm potencial de fazer
reúso. Muitas demandas poderiam ser atendidas com o reúso”, disse, em
entrevista à Agência Brasil.
Segundo ele, além de atender às necessidades por água limpa, o reúso
também significa o tratamento de esgotos e dos efluentes domésticos.
“O Brasil tem um problema sério, a área atendida hoje é pequena. Em
torno de 35% da população é atendida com tratamento de esgoto, mas isso
está concentrado nos grandes centros. As capitais dos estados tem
capacidade de tratamento. Quando se pega municípios com menos de 200 mil
ou menos de 50 mil habitantes, praticamente tem muito pouco tratamento
nessas áreas”, explicou o coordenador da ANA.
Segundo a ONU, cerca de 1,8 bilhão de pessoas no mundo usam fontes de
água contaminadas por fezes para beber, e, a cada ano, 842 mil mortes
são relacionadas a falta de saneamento e higiene, bem como ao consumo de
água imprópria.
Por isso, para garantir a utilização sustentável dos recursos hídricos, é
preciso implementar políticas eficazes de saneamento e de reúso. A
organização aponta que as águas residuais podem ser reaproveitadas na
indústria, em setores que não precisam tornar a água potável para
utilizá-la como insumo. É o caso de sistemas de aquecimento e
resfriamento, por exemplo.
Reúso industrial
Sozinha, a indústria é responsável por 22% do consumo de água mundial.
Segundo Garcia, o reúso praticamente inexiste no Brasil, exceto em
algumas iniciativas da grande indústria, que está se organizando e
fazendo tratamento de esgoto para a reutilização. “A indústria tem um
disciplinamento bom. Em tese, você tem um normativo que não deve
utilizar água de boa qualidade, a não ser que esteja sobrando muito,
para usos onde você tem condição de atender com água de qualidade
inferior. É um ponto importante da gestão da água que precisamos
observar e o reúso possibilita isso”, disse.
Ele deu como exemplo uma iniciativa público-privada para a produção de
água de reúso industrial, o Aquapolo, em São Paulo. Resultado de uma
parceria entre a Odebrecht Ambiental e a Companhia de Saneamento Básico
do Estado de São Paulo (Sabesp), o sistema fornece por contrato 650
litros por segundo de água de reúso para o Polo Petroquímico da região
do ABC Paulista, que a utiliza para limpar torres de resfriamento e
caldeiras, principalmente. Isso equivale ao abastecimento de uma cidade
de 500 mil habitantes.
Há ainda iniciativas industriais localizadas que também são exemplos de
boa gestão dos recursos hídricos. No Distrito Federal, o Grupotecno faz o
reúso da água em sua usina de concreto. O sócio-proprietário Fábio
Caribé conta que cerca de 30 mil litros de água são reutilizados por
dia, provenientes do sistema de pulverização dos caminhões betoneira.
Durante o processo de carregamento, eles precisam ser pulverizados com
água para evitar a dispersão de poeira de cimento no ar.
“Não estamos retirando essa água do meio ambiente. A minha preocupação
sempre foi de implantar um sistema que utilize o mínimo necessário de
água para operar. A água utilizada no abafamento dessa poeira volta para
o sistema e fica indo e voltando”, disse, contando que a empresa entrou
em atividade em 2013, já com o sistema de reciclagem de água.
O processo de limpeza da água é feito através de separação física por
decantação dos elementos contaminantes e por filtragem. A água residual
é, então, utilizada no próprio sistema de pulverização e na manutenção
da empresa, como umedecimento e limpeza dos pátios e lavagem dos
caminhões.
“Nós temos uma outorga que nos permite utilizar 100 mil litros de água
por dia do solo. Dessa água utilizamos hoje de 75 a 89 mil litros de
água por dia. Desse volume, 30 mil nós reciclamos por dia. Ou seja, é
como se eu tivesse um reserva técnica para ampliar a produção da empresa
sem necessariamente retirar mais água do subsolo”, explicou Caribé.
Segundo ele, o custo de R$ 100 mil, em três anos, desse sistema de
reciclagem está amortizado. “Já tivemos um retorno financeiro. E nosso
passivo ambiental é muito menor do que seria se não tivéssemos o
sistema”, explicou.
Além da reciclagem de água, o Grupotecno também trabalha a reutilização
de concretos excedentes em obras e pesquisa a utilização de materiais,
como restos de plásticos, para incorporar ao concreto fabricado, sem que
haja baixa na resistência e durabilidade. A empresa tem ainda uma
tecnologia de concretos permeáveis, que permite a passagem da água, que
podem ser instalados em calçadas e estacionamentos, por exemplo, além de
desenvolver projetos residenciais com eficiência elétrica, térmica e
hidráulica.
“Nós temos tecnologia, o que falta é conhecimento e busca pelo uso. O
Brasil é o país mais rico do mundo, a nossa vocação é ser um país de
ponta, mas isso depende de decisões políticas. Vale a pena ser
sustentável. Não é só a gente que agradece, é a coletividade. Se todo
mundo pensasse assim, acho que teríamos uma realidade diferente”,
destacou Caribé.
Fonte: Agência Brasil
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